quarta-feira, 28 de julho de 2010

Epigenética, um novo jeito de olhar os genes

Epigenética.Esse nome com certeza você ainda vai ouvir falar muito.Trata se de uma das áreas mais novas da ciência , relacionada com a influência que o meio pode fazer com DNA.Embora seja um assunto ainda pouco explorado, as primeiras descobertas tem sido muito polêmicas.
Será que as características adquiridas em vida podem ser passadas para as próximas gerações?



Você pode culpar o azar por não ter herdado os lindos olhos azuis da sua mãe. Ou agradecer por não sofrer da mesma tendência a engordar que o seu pai.
Mas e se fosse possível transmitir aos filhos as características adquiridas em vida? E se os traumas por que passamos se mostrassem tão grandes a ponto de alterar nossa composição genética? Parece mentira, mas é isso que a epigenética estuda e está mostrando cada vez mais que as ideias como a de Lamarck não estão tão erradas assim.
Por isso, antes de fumar igual um doido,de comer o que bem entende ou de levar um dia-a-dia turbulento, continue lendo e descubra como você é o que come, o que bebe, o que experimenta, o que faz. E seus filhos podem ser também.


Herança epigenética

Por anos, os genes têm sido considerados como a única forma pela qual as características biológicas podem ser passada de uma geração a outra.Mas essa época está chegando ao fim!
Cada vez mais, os biólogos estão descobrindo que variações não-genéticas adquiridas durante a vida de um organismo, como a alimentação, vícios,estresse,etc; podem algumas vezes serem passadas para os descendentes , um fenômeno conhecido como herança epigenética.

Um artigo científico publicado no exemplar de Julho do jornal "The Quarterly Review of Biology" lista mais de 100 casos bem documentados de heranças epigenéticas entre gerações de organismos. A pesquisa defende que a herança que não utiliza o DNA acontece muito mais frequentemente do que os cientistas acreditavam até agora.

Os biólogos suspeitam há anos que alguma forma de herança epigenética ocorre em nível celular. Os diferentes tipos de células em nossos corpos fornecem um exemplo do fenômeno. Células da pele e células cerebrais têm diferentes formas e funções, apesar de terem exatamente o mesmo DNA. Logo, deve haver outros mecanismos, que não o DNA, que garantam que as células da pele e do cérebro continuem sendo o que são quando se dividem.Como é uma área da ciência muito nova, muitas descobertas ainda virão e essas descobertas precisam de mais testes.


Ligar e desligar os genes

Existem quatro mecanismos conhecidos para a herança epigenética. Segundo as pesquisadoras, entre eles o mais conhecido é a metilação do DNA. Metilas são um pequeno grupo químico que se liga em determinadas áreas da cadeia do DNA. Elas servem como uma espécie de chave que ativa e desativa os genes.

Ao ligar e desligar os genes, as metilas têm um profundo impacto sobre a forma e a função das células e organismos, sem alterar o DNA correspondente. Se o padrão normal das metilas é alterado - por um agente químico, por exemplo, ao qual o organismo tenha sido exposto pelo seu comportanto de vida - o novo padrão pode ser passado para as gerações futuras.
O resultado, como verificado em experiências com ratos, pode ser dramático e perdurar por gerações, apesar do DNA continuar intacto.

Exemplos de heranças epigenéticas

A psiquiatra e professora da Escola de Medicina de Monte Sinai Rachel Yehuda nem pensava na palavra epigenética quando abriu em Nova York uma clínica para o tratamento de sobreviventes do Holocausto nazista, em 1992. Em pouco tempo, e para sua surpresa, ela notou que muitos dos filhos das vítimas, nascidos anos depois do fim da Segunda Guerra, também apresentavam sintomas de estresse acima do comum, mesmo que suas vidas tivessem pouco dos horrores vividos por seus pais.


"No primeiro momento, eu fiquei convencida de que crescer ouvindo as histórias dos pais havia sido a causa dessa anomalia", diz Rachel no documentário The Ghost in Your Genes (O fantasma nos seus genes), lançado pela BBC em 2006. Porém, as pesquisas de Jonathan Seckl, professor de medicina molecular da Universidade de Edimburgo, na Escócia, jogaram luz sobre outra hipótese.

Ele realizou experimentos com ratos. Os testes mostraram que fêmeas grávidas expostas a hormônios reguladores do estresse geravam filhotes com respostas alteradas a estímulos violentos. Na prática, filhotes de mães estressadas eram mais ansiosos. Para comprovar que a raiz desses efeitos estava nos genes e não na exposição dos ratinhos no útero da fêmea, Seckl prosseguiu seu trabalho com os filhos desses roedores que não foram submetidos diretamente aos hormônios.

O resultado foi a mesma resposta alterada. Os "netos" também apresentavam sinais de estresse. Para o pesquisador, a única explicação plausível é a de que os hormônios mexeram com o "interruptor" de alguns genes e que esse padrão foi transmitido pelo menos até a terceira geração de ratos.
Rachel Yehuda e Jonathan Seckl uniram-se, então, após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 para estudar as consequências do evento traumático nos filhos de mulheres que estavam grávidas na época. Até agora, a dupla descobriu um traço intrigante. As crianças apresentam um nível de cortisona (hormônio ligado ao estresse) no sangue mais alto do que a média da população. Daqui a alguns anos eles pretendem examinar os filhos dessas crianças e avaliar se o mesmo ocorrerá.
[texto extraído da revista Galileu de agosto de 2009]

Outros testes tem mostrado que substâncias químicas contidas em cigarros podem causar aumento da obesidade na próxima geração, assim como o estresse causa maiores índices de estresse na próxima geração.


Atualmente, os cientistas já sabem que a falta ou excesso de comida na infância pode alterar os genes ligados ao metabolismo, provocando puberdade precoce, obesidade e diabetes. Sabem também que a vitamina B12 pode ligar os genes associados às funções cerebrais, como a memória, e que uma alimentação rica em soja, vitamina B2 e ácido fólico desliga o gene da obesidade. Além disso, uma dieta rica em vegetais diminui a expressão dos genes ligados ao câncer de próstata no estágio inicial da doença. Uma alimentação rica em ácido fólico, encontrado em grãos integrais e vegetais escuros retarda o envelhecimento e inibe certos tipos de cânceres.

E mais: a falta de carinho materno na infância altera os genes que controlam a produção dos hormônios do estresse. Essa alteração pode levar a transtornos como a depressão.E por serem epigenéticos podem passar para seguintes gerações.A edição de 22 de abril de 2009 da Veja mostra essas alterações e muitas outras pesquisas sendo feitas ao redor do mundo ,mostrando que nem tudo é culpa dos genes.


Lamarck revisitado


Novas evidências para a herança epigenética têm implicações profundas para o estudo da evolução.
Este é o principal argumento de um naturalista do século XVIII, Jean Baptiste Lamarck. Lamarck, cujos escritos sobre a evolução são anteriores aos de Darwin, acreditava que a evolução era dirigida em parte pela herança de características adquiridas durante a vida.
Com o advento da genética Mendeliana e a posterior descoberta do DNA, as ideias de Lamarck foram abandonadas inteiramente. As pesquisas em epigenética, embora não tenham revelado nada tão dramático quanto as girafas de Lamarck, sugere que as características adquiridas podem ser herdadas e que, no fim das contas, Lamarck não estava todo errado.
Saiba mais sobre epigenética nesse video ,em espanhol. (ainda não existem videos sobre esse tema em português).

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